HISTÓRIA A PERIGO


Memória oculta – Arquivo Histórico de São Borja


Em recente pesquisa realizada pela Revista Armazém da Cultura, sobre as fontes de pesquisa utilizadas pelos acadêmicos da área de história e de jornalismo, como fonte de informação foi apontado os jornais, como sendo o principal meio pesquisado sobre a história local, e a maior dificuldade a falta de um arquivo público.


No ano de 2005 a URCAMP, através do curso de história e a Prefeitura, através do Departamento de Assuntos Culturais, efetivaram um convênio, em uma iniciativa inovadora, e com o intuito de salvaguardar para a história documentos da administração pública que estavam sendo perdidos pelo mofo, traças, ratos, e umidade. O objetivo era formar o Arquivo Histórico Municipal, que funcionaria no prédio anexo a Biblioteca Pública Municipal, e após sua catalogação e digitalização, seria aberto a qualquer cidadão que desejasse pesquisar.

Estes documentos estavam armazenados no Deposito Brasília, que fica localizado na Vila Cabeleira, muita coisa foi salva, documentos do início do século passado foram selecionados, limpos, analisados e catalogados por uma equipe de acadêmicos supervisionada por professores do curso de história da URCAMP.

Embora muita documentação tenha sido perdida durante o passar dos anos, devido a falta de cuidado adequada, documentações importantes e até então desconhecida para a história foram salvas, como uma sindicância da administração contra um funcionário da Prefeitura que recebeu recurso para confeccionar um almoço para autoridades que em São Borja estiveram por ocasião do sepultamento do Ex-presidente Getúlio Vargas.

Ocorre que este convênio venceu e não foi renovado, e muita documentação ainda encontrasse no Deposito Brasília, esperando uma salvação. Outro local que tivemos conhecimentos que existe muita documentação antiga atirada, e sem o devido cuidado, fica próximo ao Prédio da Corporação de Bombeiros, antiga Usina de energia. Moradores próximo ao local relatam, que sentem-se ameaçados devido ao perigo da transmissão de doenças, pois ratos e baratas são vistos com freqüência.

Na Prefeitura de São Borja, cada Secretaria Municipal mantém seu próprio arquivo, no Deposito do Departamento de Materiais, existe mais de 150m2 de prateleiras com documentações mais recentes da vida Pública de São Borja.

Esta mais do que em tempo da Administração Municipal voltar suas atenções para este problema, que vem de longa data, e concentrar todos estes arquivos em um único local, facilitando a vida dos agentes públicos e dos pesquisadores em geral. Com esta iniciativa São Borja que já recebe anualmente muitos pesquisadores de todo o país, em busca de informações, poderia transformasse em um pólo regional de pesquisa, além de digitalizar este material, poderia buscar colaborações de outros arquivos, conseguindo copias digitalizadas de documentações tricentenárias, referentes ao passado missioneiro de São Borja e das Missões, espalhados por diversos arquivos mundo a fora.

A Constituição Federal 1988 (Art. 215 e 216), o Decreto-Lei N° 25/37 e a Lei Federal de Arquivos (Lei nº 8.159/91) afirmam que são atribuídos ao poder publico, em todos os níveis, a guarda e a preservação dos documentos de arquivo como instrumento de apoio à administração, à cultura e ao desenvolvimento científico.

Diante desta responsabilidade cabe ao Prefeito e aos Vereadores de São Borja, efetivarem o previsto em lei, compromissando ações para a criação do arquivo público, além de definir os critérios para a gestão documental, sua recolha, organização e preservação, não só no âmbito oficial, como dos bens de memória coletiva local de caráter privado, quais sejam, as associações, as agremiações as entidades sociais, as  econômicas, ou recreativas e culturais que existiram ou que se mantém em funcionamento na cidade.

Ao banir do vocabulário cotidiano a expressão arquivo morto, a mentalidade de preservação dos dirigentes municipais, já apontarão uma nova visão diante da idéia equivocada de que arquivo público é mero depósito de papel velho.

Nunca foi tão intensa a busca do resgate histórico do meio em que se vive, como condição fundamental da efetivação da cidadania. Pois tudo é fonte para a história e tratar de fontes documentais ou documentos de arquivos é falar de evidências do que aconteceu, do que passou. A história da cidade é muito importante, não só para os escolares, mas para todos os cidadãos.

Matéria publicada no Jornal Alternativo em 2008 e reeditada no Jornal Zero Hora caderno H do mesmo ano.

Comentários

  1. Sinceramente é um verdadeiro descalabro que aqui vemos relatado, em matéria de conservação dos arquivos históricos de uma cidade que tem tanto para mostrar e para ensinar. Não fosse a comprovação através das fotos mostradas aqui, por este jovem empreendedor que tanto tenta fazer algo por tão rico acervo, como fez na época dos santos queimados por um louco, e até por já ter comprovado pessoalmente este descaso, poderia até tachar de exagero tal publicação. Quero aqui registrar meu protesto com tal descaso, e parabenizar o Sr. Fernando Rodrigues Correa, pelo empenho e coragem de denunciar tais abusos, com a história que não pertence a alguém, mas todos.
    José Norinaldo Tavares. Escritor, poeta e brasileiro acima de tudo.

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  2. Quando vi como foi criada uma entidade para cuidar dos documentos históricos de Alegrete (Centro de Pesquisa e Documentação de Alegrete - CEPAL), sob a Presidência do Prof. Danilo Assumpção Santos), vejo que o Poder Público não cuida realmente destes documentos. Lamentável esta despreocupação. O que deixar para nossos descendentes?

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