30 anos do Inventário da Imaginária Missioneira.



 Neste ano de 2019 completam 30 anos da realização do Inventário da Imaginária Missioneira, e como chegamos ao final do ciclo anual e não vi nem uma ação para enaltecer este brilhante trabalho, por parte dos órgãos do patrimônio cultural, resolvi escrever este artigo para contar um pouco de sua história e importância desta pesquisa.
Em 1987, por conta das comemorações dos 300 anos de São Miguel das Missões, nosso Patrimônio da Humanidade, começou a se discutir a preservação dos remanescentes Missioneiros, e que resultou em 1988, no projeto de inventário dos Bens Móveis e Imóveis produzidos nas Missões Jesuíticas dos Guaranis, que procurou registrar e pesquisar a imaginária que estavam em Museus, Igrejas, Instituições educacionais, hospitais, em posse de particulares e também no mercado de arte e antiguidades.

Ao final do inventário 510 peças foram registradas, destas 50% estão de posse de coleções públicas e 50% de coleções particulares, cabe destacar que a maior coleção é a do Museu das Missões que totalizou 94 peças inventariadas, embora na década de 1940 existiam bem mais. (RODRIGUES, 2011. p. 255)

O inventário da imaginária missioneira (1989), foi elaborado por Maria Inês Coutinho, com pesquisa de campo de Delmira Giron Finco e Denise Lamperdt e teve como revisoras Flávia Maria Rosa, Mabel Leal Vieira e Maria Inês Coutinho, o fotografo foi Luiz Antônio Catafesto de Souza, institucionalmente realizada pelo Ministério da Cultura, Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural – 12ª CR, Governo do Estado do Rio Grande do Sul e Secretaria de Estado da Cultura – Comissão Missões, com apoio financeiro da UNESCO, VITAE e Fundação Iochpe. Ao concluir restou inventariado 510 imaginárias, destas 50% públicas e 50% de posse de particulares.
A maior coleção pública é do Museu Missioneiro de São Miguel das Missões que totalizou 94 peças inventariadas, embora na década de 1940 possuia um acervo bem maior. São Borja possui inventariadas 81 peças, sendo 50 de posse de particulares e 31 de posse pública. O relatório foi impresso pela editora La Salle de Porto Alegre e distribuído a instituições de ensino e bibliotecas públicas do Estado, os originais entregues ao Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural, atual IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Este documento é balizador da imaginária missioneira no Brasil. É até hoje o único estudo realizado com o objetivo de mapear e inventariar a produção de arte jesuítica produzida aqui no período reducional. Para cada peça foi preenchida uma ficha com uma série de dados informativos, de identificação e localização com análise histórica e artística. Cada imaginária missioneira ganhou um número que permite ser rastreada, o mesmo número consta na ficha e na peça.
 Estima-se ter chegado a 1000 imaginárias a produção nas Reduções dos Sete Povos. Porém, a falta de conservação, as condições climáticas, transportes precários, incêndios, roubos e outras contingências contribuíram para o desaparecimento de boa parte deste patrimônio.
A legislação nacional de proteção do patrimônio histórico, não oferece mecanismos que assegurem o acesso a esses bens pelas instituições oficiais, dificultando assim, as ações de inventário e tombamento. O próprio Inventário da Estatuária Missioneira sofreu com isso, quando tentou inventariar 110 peças de um colecionador de peças sacras na cidade de Porto Alegre, e teve o acesso negado, veja que esta coleção particular, é maior que a do próprio Museu das Missões. Das 510 imaginárias inventariadas apenas 13 foram tombadas, todas pertencentes a Igreja Católica de São Luiz Gonzaga, e foram restauradas pelo IPHAN.
Quando do período de execução do Inventário, muitas pessoas deixaram de apresentar suas estatuárias para serem inventariadas, possivelmente com medo de terem confiscadas pelos órgãos oficiais, assim como ocorreu na década de 1940. Outro fator que prejudica o controle da imaginária é que boa parte das peças de posse de particulares não possuem o registro impresso na peça, não foi feito quando executado o inventário.
Considero as imaginárias produzidas nas Reduções uma extensão do patrimônio da Humanidade, e precisam ser valorizadas como tal, hoje espalhadas por todo Estado, possuem uma talha característica e que identifica a região. Estas peças foram talhadas na madeira, na pedra ou no ferro fundido por indígenas sobre a supervisão dos jesuítas. O inventário precisa ser atualizado e encaminhado para o conselho consultivo Nacional para um possível tombamento nacional, e quem sabe um dia o acervo possa ser reconhecido também como patrimônio da humanidade.


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