Santa Maria guarda um dos maiores acervos de arte missioneira do país

 

O ano de 2026 marcará os 400 anos da chegada dos jesuítas e da formação das primeiras Reduções no atual Rio Grande do Sul, um dos capítulos mais significativos da história do estado. As Missões deixaram um legado de arte, arquitetura, história e religiosidade que moldou a identidade cultural de muitas cidades gaúchas.

Santa Maria ocupa posição relevante nesse contexto. Numa primeira fase, abrigou a Redução de São Cosme e São Damião, uma das primeiras tentativas de aldeamento, cuja localização exata segue em investigação, já que ainda não foram encontrados vestígios arqueológicos. Numa segunda fase, foi território de criação de gado e abrigou a Capela de Santa Maria, que mais tarde deu origem ao povoado.

Hoje, a cidade é guardiã de um acervo expressivo, reunido ao longo do século XX e preservado em cinco instituições e em ao menos uma coleção particular.

Entre esses bens, destacam-se peças em madeira, pedra e metal produzidas entre os séculos XVII e XVIII por indígenas Guarani sob orientação dos jesuítas. Na imaginária, percebe-se a fusão entre o Barroco europeu e elementos da cultura indígena e do ambiente local, originando o Barroco Missioneiro. São obras que, além de espiritualidade, revelam criatividade e estratégias de resistência cultural.

O projeto Taãngabá – Alma e Imagem é uma iniciativa de três egressos do Mestrado em Patrimônio Cultural da UFSM: José Fernando Corrêa Rodrigues, Elói Piovesan Scapin e Ricardo da Silva Mayer. O grupo dedica-se a pesquisar o patrimônio missioneiro da Região Central, revelando peças pouco conhecidas e propondo ações para sua valorização e divulgação. Já identificaram 54 peças em Santa Maria, o que coloca a cidade entre os maiores conjuntos de arte missioneira do país, ao lado de São Miguel das Missões e São Borja.

Às vésperas dos 400 anos do estabelecimento das Missões no estado, o reconhecimento da relevância desse patrimônio torna-se ainda mais necessário. É preciso atualizar inventários, preservar acervos, ampliar o acesso público e promover educação patrimonial para integrar Santa Maria ao circuito do Barroco Missioneiro no estado e no país.

Mais que celebrar um passado distante, trata-se de reconhecer o impacto das Missões Jesuítico-Guarani, muitas vezes ofuscado por outros eventos históricos, na formação de nossa identidade cultural.


Artigo publicado no jornal Diário de Santa Maria em 16/10/2025







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