Festas reais em São Borja em novembro de 1760.
Festas reais em São Borja em novembro de
1760.
Em novembro de 1760, há exatos 264 anos,
realizou-se em São Francisco de Borja, antiga Redução missioneira, uma festa em
homenagem aos reis da Espanha, Carlos III e Maria Amália Walburgo. Analisamos
um documento preservado no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, intitulado
“Las Fiestas Reales em S. Borja em 1760”, escrito por um autor anônimo.
Inicialmente, foram estipulados onze
dias de festividades, que começaram no dia 4 de novembro, dia de São Carlos,
santo de mesmo nome do Rei da Espanha, e se estenderam até o dia 14, dez dias
antes da data natalícia da rainha. Curiosamente, embora a festa tenha sido em
homenagem à vida de ambos, a rainha já havia falecido há dois meses (em 27 de
setembro), mas a notícia ainda não havia chegado ao continente.
Neste período pós-expulsão dos Jesuítas
da Companhia de Jesus, o território missioneiro vivia uma constante disputa
entre as coroas de Portugal e Espanha, sendo negociado por diversos tratados,
ora pertencendo a Portugal, ora à Espanha. D. Pedro Cevallos, comandante
espanhol que havia estabelecido seu quartel-general em São Borja para a
conquista da Colônia do Sacramento e de outros territórios portugueses, decidiu
realizar uma festa em homenagem aos monarcas. A seu convite, compareceram
indígenas dos Povos de Trindade, Mártires e Santo Tomé.
Os convidados chegaram juntos ao Povo de
São Borja, ao som de seus instrumentos, todos em formação, causando grande
animação e alegria. Acompanhados por todos, entraram na igreja e, com devoção,
rezaram e cantaram em guarani, ao som da música, finalizando com um discurso em
castelhano.
O comandante ordenou aos seus soldados
que, diariamente, fornecessem aos convidados pão, milho, carne, em abundância.
No dia 4, ao alvorecer foram dadas salvas com 9 peças de artilharia na praça,
em frente à igreja Matriz. Por volta das 10h, uma missa cantada reuniu cerca de
mil pessoas. O banquete foi farto, com diversas sobremesas e grande variedade
de doces. Durante a festividade, os participantes gritavam em coro: “Viva
El-rei, Viva El-rei, que triunfe, impere e cubra de favores a Espanha”. Duas
bandas se revezaram: uma de Santo Tomé e outra de Mártires. As atividades foram
descritas minuciosamente no documento, e uma atividade noturna chamou a
atenção:
Assim que anoiteceu, os indígenas
executaram quatro danças, incluindo a das quatro partes do mundo (então
conheciam-se apenas quatro continentes). Colocaram a imagem de São Inácio de
Loiola em um globo de duas varas de diâmetro. Cada dançarino indígena, vestido
conforme o continente representado, segurava nas mãos um pedaço de tábua
pintada. A Europa surgiu primeiro e, após várias danças, colocou a tábua sobre
o globo. Seguiram-se a Ásia, a África e, por fim, a América, formando a efígie
do rei Carlos III.
Como inicialmente previsto, os festejos duraram onze dias, entretanto o comandante decidiu estender por mais dez dias as atividades, encerrando-se no dia do aniversário da rainha, em 24 de novembro, totalizando 21 dias de homenagens e muita integração na antiga Redução de São Francisco de Borja.
Publicado no Jornal Folha de São Borja de 09/11/2024 - Ed. 4598.
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