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Mostrando postagens de 2025

O viajante dos desenhos – Alfred Demersay 1846

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  As Reduções Jesuítico-Guaranis sob o Olhar de Alfred Demersay: Arte, Documento e Memória Em meados do século XIX, o médico e pesquisador francês Alfred Demersay realizou uma das mais importantes viagens documentais pelo Paraguai, registrando artisticamente os vestígios das antigas reduções jesuítico-guaranis. Entre 1846 e 1847, incentivado pelo botânico Aimé Bonpland — com quem se hospedou em São Borja — Demersay resgatou um talento adormecido desde os tempos de universidade: o desenho. Foi ali, entre as ruínas da antiga missão, que ele começou a esboçar imagens da igreja, seus detalhes arquitetônicos e da paisagem ao redor. Os desenhos, produzidos com rigor e sensibilidade, formaram a base de um atlas de litografias publicado em Paris entre 1860 e 1863, que integra sua obra histórica sobre o Paraguai. Embora não fosse um artista profissional, Demersay alcançou resultados impressionantes ao registrar fachadas, colunas, móveis litúrgicos e elementos decorativos de diversas missõ...

São Borja: a capital do Barroco Missioneiro

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  São Borja: a capital do Barroco Missioneiro Imaginária missioneira  em ferro, propriedade particular Nas últimas semanas, tenho me debruçado sobre as 510 fichas do inventário da imaginária missioneira realizado no Rio Grande do Sul no final da década de 1980. Esse levantamento representa uma ação vital para preservar, valorizar e reconhecer a herança cultural deixada pelas Missões Jesuíticas Guarani — um patrimônio que transcende fronteiras e integra o legado universal da humanidade. A imaginária missioneira é o conjunto de esculturas sacras produzidas para fins devocionais e catequéticos nas reduções, sendo um dos mais ricos testemunhos da fusão entre o barroco europeu e a arte indígena guarani. Em São Borja, foram inventariadas 86 esculturas, além de outras oito, hoje espalhadas por diferentes cidades, mas originárias da antiga Redução de São Francisco de Borja. Há indícios de que peças de Santo Antônio das Missões também tenham sido entalhadas ali. Nem todas as esc...

Sítio Arqueológico de São Francisco de Borja – RS03814 e sua imperativa preservação.

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  Sítio Arqueológico de São Francisco de Borja – RS03814 e sua imperativa preservação.   A cidade moderna de São Borja, cresceu e se desenvolveu sobre a antiga Redução de São Francisco de Borja, uma das 30 Reduções que formavam a Província Jesuítica do Paraguai. Infelizmente em nossa cidade as construções deste período, igreja, casas e oficinas não foram preservadas. Os materiais oriundos destas edificações foram reaproveitados em novas construções, utilizando partes inteiras das antigas residências ou reaproveitando as pedras inclusive da igreja em novas construções. Como os blocos de pedras eram enormes os que encontravam nos alicerces das antigas construções, muitos não foram retirados, fato que ficou comprovado em 2006 quando em frente a igreja Matriz São Francisco de Borja foi localizado as bases da igreja erguida por Brazanelli em (1690 – 1705), esse fato foi a primeira identificação de remanescentes do período em São Borja junto ao IPHAN – Instituto do Patrimônio ...

Festas reais em São Borja em novembro de 1760.

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  Festas reais em São Borja em novembro de 1760. Em novembro de 1760, há exatos 264 anos, realizou-se em São Francisco de Borja, antiga Redução missioneira, uma festa em homenagem aos reis da Espanha, Carlos III e Maria Amália Walburgo. Analisamos um documento preservado no Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, intitulado “Las Fiestas Reales em S. Borja em 1760”, escrito por um autor anônimo. Inicialmente, foram estipulados onze dias de festividades, que começaram no dia 4 de novembro, dia de São Carlos, santo de mesmo nome do Rei da Espanha, e se estenderam até o dia 14, dez dias antes da data natalícia da rainha. Curiosamente, embora a festa tenha sido em homenagem à vida de ambos, a rainha já havia falecido há dois meses (em 27 de setembro), mas a notícia ainda não havia chegado ao continente. Neste período pós-expulsão dos Jesuítas da Companhia de Jesus, o território missioneiro vivia uma constante disputa entre as coroas de Portugal e Espanha, sendo negociado por div...

Sem Tombamento, Sem Memória: O Patrimônio Missioneiro e a Omissão Institucional

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  São Jorge Missioneiro Em 17 de maio de 2020, após um alerta do professor e pesquisador da arte sacra missioneira Edson Hüttner, soou para nós um alarme: esculturas sacras missioneiras de São Borja, originárias das Reduções Jesuíticas, estavam prestes a serem leiloadas online — tratadas como simples mercadorias expostas em prateleiras digitais, sujeitas ao maior lance. Entre elas, destacava-se uma peça emblemática: o chamado “São Jorge Missioneiro” , que permanecia em São Borja desde o fim da Guerra do Paraguai, como um relicário vivo da história local. Denunciamos o leilão ao Ministério Público e ao IPHAN. A mobilização coletiva conseguiu suspender a venda, mas, diante da inércia da gestão pública local, a escultura acabou sendo adquirida pelo Museu Municipal de Santo Ângelo. Após pesquisas, a peça foi reidentificada como “Nosso Senhor das Palmas” , tornando-se uma das principais atrações do novo museu da cidade. Apesar do alívio de vê-la preservada na região, lamentamos que a a...